Sinais de verão nórdico



Eu sou uma pessoa que foi totalmente programada para entender e viver feliz numa parte do mundo onde as estações do ano são fenômenos quase que totalmente abstratos. Na maior parte do meu amado país é a presença, ou ausência, de chuvas o único fenômeno natural que interfere e eventualmente altera a paisagem. Seja a paisagem urbana ou rural. No Rio de Janeiro, onde até os invernos são chuvosos, nunca é a falta de chuvas que intefere sobre maneira na paisagem, mas o excesso delas em alguns meses do ano. Em certas ocasiões as chuvas são tão intensas que enchem desastrosamente ruas e vales.

Durante os anos em que vivi em São Paulo pude observar com curiosidade e certo prazer as alterações trazidas pela entrada do inverno seco no planalto paulista. O inverno paulistano além de temperaturas mais baixas é marcado pela falta algumas vezes extremada de chuvas. As secas que eventualmente atingem a cidade de São Paulo durante o inverno reduzem significativamente a humidade do ar, os níveis dos reservatórios de água e expõem as ameaças da poluição sobre a cidade.



As noites frias do inverno paulistano que expõem de forma nua e crua os efeitos da poluição atmosférica também transformam o céu da cidade em tela. A cada entardecer uma belíssima obra de arte natural é estampada no céu da cidade. Não fossem os lindos pôr-do-sol paulistanos efeitos da inversão térmica eles poderiam se tornar atração turística da capital paulista. Mas inversão térmica não é um fenômeno paulistano não. Todas as cidades grandes do nosso frágil planetinha costumam enfrentar o problema durante meses de estiagem. Li recentemente que até mesmo Salvador, a alegre capital do Estado da Bahia, está sofrendo muito com a inversão térmica.

Daqui eu me impressiono com o poder que as lembranças das tardes de inverno passadas na capital paulista tem sobre a minha pessoa. É imensa a saudade eu sinto de São Paulo e dos meus amigos que lá vivem. Uma lembrança especial são os encontros para cafezinhos no final de tarde, antes do fechamento, na lanchonete no décimo andar do prédio da Folha na Alameda Barão de Limeira. A cada dia um fotógrafo diferente, sempre um grande fotógrafo brasileiro, subia até a cobertura onde fica a famosa piscina da Folha, para fotografar o assustadoramente lindo céu vermelho produzido pela inversão térmica. Inúmeros são as imagens de "céus invertidos" a ilustrar as primeiras páginas do jornal.



Eu amo olhar para o céu. Me perder no azul (putz, ficou parecendo uma canção do Djavan). Muitas são as horas da minha vida passadas deitada com a barriga para cima olhando as nuvens dançando no céu, "mergulhando" no azul do céu. Meu lugar preferido de deitar para olhar o céu é a praia. O hábito de deitar e ficar observando o céu começou no Rio mas em pouco tempo ganhou o mundo. Eu amo deitar para me perder no céu. Meus céus favoritos? Goiânia em primeiro lugar, o céu que abraça. Brasília em segundo, o céu na terra, sensações muito loucas a beira do Paranoá. Em terceiro "o céu puro" de Quixeramobim no Ceará e, claro, hors concours "o céu que me chama pelo nome" do Rio de Janeiro.

Outros céus que me encantam: na ilha grega de Naxos, na cidade de Pucón visto do alto do vulcão Villarica na Patagônia chilena e o céu de Oslo. Por que Oslo e não Trondheim? Não sei. Oslo é mais. Vivemos em Oslo, numa ilha chamada Ormøya, durante o nosso primeiro ano na Noruega. Se visto do mar o céu de Oslo tem uma perspectiva quase mágica. Eu amo Oslo, uma surpreendente paixão. Sem dúvida uma das cidades mais bonitas da Europa ainda que aparentemente seja uma cidade difícil de se visualizar da terra. A parte que eu tanto aprecio são as inúmeras ilhotas ao redor do fiorde de Oslo, as casinhas, o trânsito intenso de barcos, as marinas, as pequenas pontes. Tudo fica muito mais lindo visto do mar.



Aqui em casa já é verão ainda que o vento da manhã ainda me faça sentir um frio. O sol tem brilhado incansável todos os dias. Ontem o dia foi totalmente iluminado e se alongou até meia-noite. Como estávamos numa festa na casa de uns amigos portugueses e chegamos em casa tarde percebi que já não anoitece mais. Meia noite e meia veio o lusco fusco, quando tudo leva a crer que vai escurecer, mas quando se vê aparece uma moldura alaranjada por trás das montanhas deixando claro que em questão de minutos o sol vai estar de volta.

Eu sei que eu sofro muito aqui no inverno mas nada pode ser mais revigorante do que olhar para o céu para ver a luz do sol aparecer a uma hora da madrugada. Do fundo do meu coração eu desejo que todos vocês um dia possam ver de perto a beleza do dias sem noite deste norte...

Obs. todas as flores nas fotos exibidas nas duas colagens estão embelezando o nosso jardim.

Comentários

Mari disse…
Claudinha, está ai uma coisa que eu adoraria presenciar ao vivo e a cores: os "dias sem noite" do Norte. Estive na Europa há 13 anos, mas não cheguei a conhecer a Noruega, infelizmente. Depois acabei casando com o pai da Isabella, engravidando, separando, terminando a faculdade de Direito e indo trabalhar, casando com o Marcelo... com tanta coisa e tantas despesas, por enquanto, não temos como fazer esse (e tantos outros) tão sonhado passeio, mas se Deus quiser, mais dia, menos dia, conseguiremos fazer todas as viagens que gostaríamos.
Suas fotos, como sempre, estão incríveis!!
E o papai, está melhor? Continuo aqui firme nas minhas orações por ele.
Beijo grande,

Mari
Claudia disse…
Mari,

Obrigada. E a vida é assim mesmo, um turbilhão de acontecimentos, alguns inesperados, mas todos parecem concebidos para testar nossa capacidade de adaptação e nossa persistência. Um dia as coisas rolam. Tenho isso em mente sempre que sou tomada pela frustação de nunca ter ido ao Japão, meu grande sonho.

Bj,

C.
Gina disse…
Cláudia, não podemos perder esse encanto por apreciar as coisas lindas da natureza, como o céu e as flores.
Vi anoitecer às 23 horas na Espanha, que já é bem incomum para nós, nunca mais tarde que isso.
É como a vida, há que se vencer o rigor do inverno para poder receber as maravilhas do verão.
Você mora num país lindo.
O mundo é uma bênção concedida por Deus aos homens.
Lindo post!
Bjs.
Claudia disse…
Gina,

Obrigada. Sim, este país é lindo, mesmo coberto de gelo.

C.
Claudia, eu ainda não tive o prazer de visitar a Noruega---embora isso esteja nos meus planos futuros. Mas ja vivi num lugar com clima bem parecido [o centro-norte do Canadá] e foi uma experiência única e inesquecível. As estações do ano rigidamente demarcadas proporcionam mesmo cenários de uma beleza inebriante. Eu curti muito os meus anos lá e tenho recordações do outono que chegava com dia marcado e transformava muito rapidamente a paisagem, dos lindos dias ensolarados e absurdamente frios que ostentavam um céu azul de fazer perder o fôlego, a incrivel visão da aurora boreal, a força da primavera chegando que eu nunca tinha visto em lugar nenhum e a alegria inebriante do verão. Aqui as estações do ano são bem demarcadas, mas tudo é mais light. Não deixa de ser muito bonito também, mas não tem o impacto do clima do extremo norte.

um beijo,
Claudia disse…
Fernanda,

Sabe que apesar da latitude bem mais baixa, eu acho que na região central do Canadá os invernos são ainda rigorosos mais do que aqui. Na Noruega a presença do Gulf Stream "suaviza" os invernos e é o que permite que se viva nesta região.

Eu gosto muito da vida nos trópicos, sem as marcas fortes das estações do ano, do calor constante mas a luz dos dias sem noite é mágica e me faz amar estar aqui. Eu sou uma pessoa que sempre detestou a noite e o dia me encanta.

Bj,

C.
Cininha disse…
Achei engraçado ver essas flores todas, porque ainda há bem pouco você nos mostrava a neve :-)Gosto muito de ver essas mudanças na natureza e até me questiono como tudo funciona tão direitinho como o relógio.
Quanto a esse dia sem noite, nunca vi, mas no ano passado estive bem perto de vêr, no circuito que fiz pelo baltico, em S. Petersburgo havia luz até á 1 hora da manhã e não sei a que hora nascia o sol, mas penso que bem cedo.
Bjs
Olá Cláudia!

Ainda outro dia estava a dizer ao Miguel todas as coisas que tinha que ver antes de morrer e uma delas era estar num desses países em que nunca é de noite.
A minha irmã vivia em Copenhaga, mas nunca a fui visitar no Verão!
As suas flores estão lindas e o seu texto traz-me "o sonho de uma noite de Verão"...
Eu acho que olhar o céu é profundamente libertador...

Um beijo enorme!
Cláudia,
Tanta flor linda! Não há dúvida que a Primavera é uma das mais belas estações do ano.
O facto de não anoitecer deve ser mágico, um dia ainda tenho que visitar a Noruega.
Bjs e boa semana
Moira
Unknown disse…
Minha linda, obrigada por me falar sobre o evento no Ratatouille, irei mandar logo! Fiquei super feliz que você gostou do arroz vermelho e da paçoca.
Fiquei aqui lendo o seu post e viajando e imaginando todas essas cidades que você falou. Tenho fé em Deus que um dia conheceremos a Noruega e lhe conhecerei também.

Muitos beijos
Claudia Lima disse…
O tempo aqui na Florida tem estado diferente: No último outono e inverno houve frio. Agora é primavera e está chovendo bastante há vários dias e tem estado até friozinho.
Do frio não me queixo, só detesto a umidade. Me lembra minha cidade natal: Porto Alegre no inverno é terrível, é fria e úmida. E parece que aquela umidade penetra até nos ossos da gente.
Falando de céu me lembrei de Utah. As vezes, antes de nevar, o céu fica vermelho e há um cheiro estranho no ar, cheiro de tempestade. Eu adorava...
As flores do seu jardim estão lindíssimas. Aqui nos EUA o pessoal tem mania de arrumar o jardim, plantando mil coisas novas no início da primavera. É uma tradição.
Nas lojas se vê montanhas de produtos para jardinagem.
Amanhã aqui é feriado: Memorial Day.
Bjs e boa semana! :)
Glau disse…
Pô, Clauzinha, sou sua parceira nesta.. to sentindo tanta saudades de SP.. daquele céu azul e a camada de poluição ao fundo! já faz parte da beleza de SP. A vista da minha casa era tão bonita.. passava horas lá vendo o céu, os aviões passando, helicóptero. snif, snif

os dias de céu azul em Bsb estão começando.. sem uma nuvem no céu.. mto bonito, mas mto seco, né? to sentindo o nariz, boca secando..

to com saudades de casa... :(
Isabel disse…
Que post mais lindo, Cláudia. Que linda a forma como você se lembra de todos os céus de que você falou, os seus céus. Eu amo o meu aqui de Lisboa, pra mim é a coisa mais linda. Também adoro olhar o céu deitada na praia ou no campo. É uma sensação maravilhosa.
Esses dias de luz eterna aí do norte devem ser completamente mágicos. Está aí uma coisa que deve ser imperdível. Que bom que depois do inverno o norte dá esse prémio aos seus habitantes.
Tudo de bom.
Bjs
Luciana disse…
Claudia, seu jardim está muito lindo. E que texto maravilhoso esse que você escreveu.
Sabe, tem horas que fico achando que você é nordestina.
Bom, aqui o sol se foi, ontem ainda voltou, mas hoje a chuva voltou a reinar.

Beijos
Claudia disse…
Luciana,

Hoje está chovendo aqui também mas até ontem os dias estavam maravilhosos e quentes (assim, o quente norueguês).

Mas você não se engana não eu sou totalmente nordestina de coração. Eu vivo o sertão no meu dia-a-dia, nas minhas pesquisas. O nordeste é o meu canto de amor neste mundo.

Bj,

C.
Verena disse…
Claudia,
seu texto me emocionou e as fotos me fizeram viajar e sentar nessa cadeira branca recostada na almofada verdinha para apreciar o lindo céu azul...
Você mora num lugar lindo mesmo e que bom que temos esse canal para apreciar tanta beleza através dos seus olhos e coração.
O mundo deve ter céus de perder o fôlego, conheço alguns deles e ainda vou ver o Norueguês...mas sua alma brasileira com certeza canta ao ver os céus daqui.
Um beijo grande!

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