Noites de verão, de calor e reflexão...



Queridos,

Muito obrigada pelos muitos emails cheios de carinho e pela atenção que me é dedicada durante meus longos períodos de silêncio. Adoro receber emails, os comentários no blog, vocês me animam muito. Mas eu ainda ando devagar. Sabe aquela coisa de perder a voz interior? Estou assim, sem voz, precisando encontrar meu tom, perdido por aí. E no meio do processo muita coisa boa tem acontecido, eu nunca mudei tanto, vivo um intenso processo de transformação que é excitante mas que no fim das contas é o que tem me deixado em silêncio.

Se por aqui ando quieta, minha vida anda movimentada e cheia de atividades e novas possibilidades. Além disso eu nunca li tanto, nunca aprendi tanto na minha vida. Mas ando numa fase difícil, entre outras coisas, em crise com minha vida de expatriada, sofrendo as muitas dores do longo exílio, ainda que voluntário. Mudança de país é um processo de adaptação difícil, trabalhoso, surpreendentemente longo e, mesmo depois de 10 anos vivendo aqui na Noruega, ainda sofro e me irrito profundamente com a vida na Europa... Não é fácil viver aqui, não é fácil para mim viver fora do Brasil, mas também não é fácil fazer as malas e voltar, não depois de tantos anos. São tantos detalhes complicados que o melhor é tentar se adaptar mais um pouco, rever posições e tentar renovar as energias e o amor pelo país onde se vive...



Neste verão maravilhoso que está dando as graças por aqui este ano, eu e Per temos saído muito, fizemos novos planos, reorganizamos nossa casa, nosso jardim e tudo mais. E o calor foi de grande ajuda, o calor me inspira e aumentou a minha disposição de sair de casa e de circular por aqui e, de uma forma, ou de outra, me alimentei novamente de Noruega, das coisas boas daqui, das coisas que me inspiram e me animam. Nunca toquei nesse assunto aqui no blog, não abertamente... mas imagino que eu amor incondicional pelo Brasil sinalizava meu vínculo forte, meu apego, meu interesse permanente e, indiretamente, demonstrava minha vontade de viver no meu país e de deixar de viver no país onde vivemos hoje. Mas nunca tinha falado isso abertamente. Do quão difícil é viver longe de casa. Mas eu não decido as coisas apenas em meu nome, somos uma família e todas as decisões aqui em casa precisam ser boas para todo mundo e isso não é uma coisa fácil de se atingir...

E nestes dias de verão, dias longos de junho e julho, sem a escuridão da noite, quando o sol brilha até as 23h, 23h30, eu me abasteci de luz e de energia vital. Incrível como o sol faz toda a diferença, iluminou tudo e produziu uma nova vida. Eu também refleti muito sobre a realidade dos sonhos, pois minha vida é uma parte da vida que sonhei quando menina, quando sonhava viver numa terra onde não houvesse noites... E não é que eu consegui! Claro que tudo tem um lado ruim. Quando menina eu detestava a noite, e sonhava com um lugar onde os dias não acabassem nunca. E nesse mesmo lugar sem noites, durante longos meses do ano, os dias são curtíssimos, praticamente sem luz do sol. E como todos os lugares do mundo, não é perfeito, é diferente de tudo o que eu mais prezo, mas é um lugar muito bom e muito generoso comigo, e eu sou muito grata por ser tão bem recebida por aqui.

Mas o fato é que nenhum lugar fora do Brasil jamais me será suficiente, onde quer que eu vá, onde quer que eu viva, um imenso pedaço de mim vai estar sempre faltando...




Comentários

Unknown disse…
Querida Claudia, sofro com seu sofrimento...Tenho tanto apreço por você, é como se fôssemos amigas.Beijos na sua linda família

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